Entretenimento
Censura da Globo, entrevistas polêmicas e ameaça do PCC: Relembre a trajetória de Marcelo Rezende
Tendo o jornalismo como única profissão de vida, Marcelo Rezende iniciou sua trajetória no “Jornal dos Sports”, em 1969, mas, nunca formado em jornalismo, chegou a receber um conselho do chefe da redação para tentar outro emprego, já que era muito distraído e não tinha o menor jeito.
Em 1971, entretanto, ele foi convidado para trabalhar como repórter na Rádio Globo e em 1972, foi contratado pelo jornal “O Globo”, do mesmo grupo, onde teve a oportunidade de atuar com o ídolo Nelson Rodrigues e com o colega Tim Lopes.
Nos anos seguintes, Rezende trabalharia ainda em outras redações, como na revista “Placar”, da editora Abril, onde cobriu a Seleção Brasileira em duas Copas do Mundo. O convite para ingressar na TV viria apenas em 1987, na cobertura da Globo nas transmissões esportivas dos clubes do Rio de Janeiro.
Dois anos depois, Marcelo teve a oportunidade de cobrir notícias policiais, como o assassinato de José Carlos Nogueira Diniz Filho, um dos empresários mais ricos da capital carioca, a busca ao paradeiro de PC Farias, o crescimento e as invasões do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST, a indústria da pirataria fonográfica chinesa e a corrupção na Confederação Brasileira de Futebol, CBF. O instinto investigativo, portanto, começaria ali.
Chacina na Favela Naval – Um marco na história do Brasil
Considerada responsável pela criação da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos no Brasil, uma reportagem produzida por Marcelo Rezende para o “Jornal Nacional” em 1997 em Diadema, na Grande São Paulo, mostrou policiais torturando e assassinado pessoas durante uma operação. A TV Globo descreve a matéria, conhecida como “Favela Naval”, como um marco na história do país, pelo impacto e repercussão que teve. Na época, William Bonner chegou a alertar o público que as imagens mostradas seriam fortes demais.
Todo o processo de gravação, feitas nos dias 3, 5 e 7 de março daquele ano e só exibida no principal telejornal da emissora em 31 de março, contou com um grande trabalho de apuração do jornalista, que após receber as fitas, levou quase uma semana para autentificar as imagens. Rezende também descobriu que várias denúncias haviam sido feitas nos meses anteriores à Justiça, mas nenhuma providência havia sido tomada.
“Linha Direta” e a equivocada entrevista com o Maníaco no Parque
Marcelo Rezende também fez história no “Linha Direta” entre 1999 e 2002. Um dos criadores da atração que marcou o jornalismo brasileiro, o apresentador montou uma equipe com 50 profissionais, entre eles 20 jornalistas – incluindo Tim Lopes, e contou com o apoio da dramaturgia da emissora, sob o comando de Roberto Talma, para simular os fatos que eram narrados. O tom sensacionalista do programa era uma maneira da Globo para enfrentar a boa fase do “Programa do Ratinho” (SBT).
Em um piloto do programa, exibido meses antes da estreia dentro do “Fantástico”, Rezende dividiu a Globo ao entrevistar Francisco de Assis Pereira, o Maníaco do Parque. A reportagem abusou diversos recursos de ficção, com música de suspense e outros elementos de sonoplastia, além de textos e cortes de imagem que sublinhavam a dramaticidade. Um vidente e um astrólogo também foram chamados para analisarem as falas do criminoso. Em entrevista ao jornal “Folha de S.Paulo”, o jornalista assumiu que o tom da entrevista foi um erro.
Em 2012, Marcelo voltaria a entrevista o serial killer, desta vez para o “Câmera Record”. Em um dos momentos da conversa, o apresentador questionou como seria a reação do assassino caso sua filha encontrasse pelo caminho alguém como ele. “E se eu fosse seu filho?”, devolveu Francisco, deixando o jornalista em silêncio por vários segundos. Este foi considerado pelo comunicador um dos momentos mais emblemáticos de sua trajetória no jornalismo.
DivulgaçãoReportagem sobre Daniella Perez foi vetada no “Linha Direta”
Fim do “Linha Direta”, críticas ao programa e veto à reportagem sobre Daniella Perez
Em maio de 2002, a Globo decidiu encerrar o “Linha Direta”, que já não estava marcando os mesmos índices de sua estreia. Nesta época, Marcelo Rezende já estava contratado pela RedeTV! havia 2 meses e em entrevista à “Folha”, afirmou que a atração evitava casos de ricos e poderosos. “Não aguentava mais marido que matou mulher, mulher que matou marido“, afirmou.
O jornalista também contou que deixou o programa após uma edição sobre o assassinato de Daniella Perez, filha da autora Glória Perez, ter sido barrada pelo canal. A reportagem, editada e produzida por ele, mostraria algo “que mudaria a história do caso”. “Eu conversei com a Glória [Perez] várias vezes. Mesmo o caso já tendo sido julgado, tínhamos uma testemunha que até hoje ninguém ouviu. Não vou contar porque uma hora eu uso. O cara estava aposentado da polícia, pescando em paz. Fizemos ele contar a história, editamos o programa. A Glória participou. Por decisão da CGJ [Central Globo de Jornalismo], o programa não foi ao ar. Foi a gota d’água”, disse ele em 2002.
Rezende também investigou por meses um senador que estava envolvido em um crime, mas novamente sofreu boicote na Globo. “Isso não foi bem recebido. Não sei se é receio ou discriminação”, afirmou.
Apresentador foi vítima do jornalismo irresponsável do SBT em 2003
Falsas ameaças do PCC
Em setembro de 2003, o “Domingo Legal” (SBT) levou ao ar uma falsa entrevista com integrantes do PCC que fizeram ameaças a Rezende, entre outros jornalistas conhecidos na TV. No dia seguinte, no programa “Repórter Cidadão”, na RedeTV!, o apresentador disse não acreditar nas declarações pelo linguajar dos supostos bandidos. Uma semana depois, o Departamento Estadual de Investigações concluiu que a entrevista era realmente falsa e que o jornalista estava com a razão.
Marcelo Rezende não teve muita sorte na apresentação da primeira versão do “Cidade Alerta”
Saída da Globo, estreia no “Cidade Alerta” e outras passagens pela TV
Em 2004, Marcelo foi convidado pela Record para comandar a primeira versão do “Cidade Alerta”. O formato da atração, repleta de notícias policias e tiroteio ao vivo, foi tirado do ar em junho de 2005 em São Paulo devido a baixa audiência e inúmeros cortes. No Rio de Janeiro, contudo, o programa foi apresentado até dezembro daquele ano.
Em entrevistas, contrariando as notícias oficiais sobre o fim programa, Rezende declarou que o “Cidade Alerta” foi extinto pela Record por pressão do ex-presidente Lula, que teria se desagradado ao saber que as tragédias narradas pelo programa repercutiam mundialmente através da Record Internacional.
Depois de deixar a Record, o jornalista comandou o “RedeTV News” entre 2006 e 2008, e pela primeira vez abandonaria o seu jeito mais popular de contar notícia, já que a atração seguia o formato mais tradicional e sisudo do jornalismo. No final de 2008, ele deixaria a emissora por insatisfação com reduções no salário.
Em diversas entrevistas, o jornalista classificou os meses que sucederam sua saída da RedeTV! como um dos períodos mais difíceis de sua vida. O desemprego afetou seu casamento, que chegou ao fim, e a depressão só terminou com o chamado da Band, emissora que lhe ofereceu um sexto dos seus antigos rendimentos.
Rezende revisitou crimes polêmicos em rápida passagem pela Band
Marcelo foi convidado pela emissora paulista em 2010 para apresentar uma atração nos fins de tarde, mas o projeto não saiu do papel e ele acabou emplacando o programa “Tribunal na TV”, de sua criação. O jornalístico mostrava os crimes mais polêmicos e famosos já julgados no Brasil sob outros pontos de vista, destacando os erros e acerto das investigações. Assim como o “Linha Direta”, a atração também mobilizou o jornalismo e a dramaturgia da emissora para a reconstituição dos casos, mas ficou no ar por apenas 4 meses.
Glória Perez se revoltou com teor de reportagem produzida por Rezende
O retorno à Record e a nova entrevista polêmica
Em setembro de 2011, ele voltou à Record para produzir reportagens especiais para “Domingo Espetacular”, como parte de uma estratégia da emissora em tirar pontos do “Fantástico”. Uma das entrevistas mais polêmicas da atração foi com a do ator Guilherme de Pádua, assassino de Daniella Perez. A imprensa considerou o teor da reportagem “rasa e sensacionalista” e afirmou que atração procurava dramatizar ainda mais o caso e mostrar o criminoso como um bom moço que foi vítima das circunstâncias e que já estava plenamente reintegrado à sociedade.
Glória Perez se revoltou com a matéria e entrou com um ação na Justiça para proibir a emissora de reprisar a entrevista, sob pena de multa de R$ 500 mil. A Justiça acatou o pedido e também vetou a exibição, sem autorização prévia, de imagens de Daniella e de sua mãe na reportagem. A dramaturga também se revoltou com as notícias de que o assassino teria recebido R$ 18 mil para conversar com a Record.
Marcelo Rezende conseguiu fazer humor em um programa banhado a sangue
Em 2012, depois de apresentar também o “Câmera Record”, Rezende voltaria ao comando do “Cidade Alerta”, onde finalmente consagraria o programa na TV. Ao lado comentarista de segurança Percival de Souza, ele deu um novo tom ao formato, misturando notícias policiais com falas irônicas e brincadeiras com a equipe. O programa chegou a ficar no ar por 4 horas seguidas e foi responsável por levantar a audiência das tardes e ‘entregar’ em alta para os programas noturnos.
Em 2013, o jornalístico atingia o seu auge na TV e destacou ainda mais o trabalho de Rezende. Nos protestos políticos que começam a dominar o país naquele ano, o jornalista virou assunto na imprensa por suas declarações polêmicas, como o apoio à pena de morte para crimes graves, a diminuição da maioridade penal e descriminalização do aborto. Rezende também apoiou as manifestações contrárias à reforma da previdência do Governo Temer.
Em maio de 2017, o “Domingo Espetacular” revelou que o jornalista estava lutando contra um câncer pancreático com metástase no fígado e, portanto, estava deixando a apresentação do programa e se despedindo de sua trajetória ímpar na TV.
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